Carta ao diário

Olá diário,
e eventual leitor que o-tenha furtado do fundo de minha gaveta para fuxicar no meu dia-a-dia. Vocês são muito bem vindos! (mas não espalhem poraí o que vocês vão ver aqui) Afinal, aqui estarão documentadas as minhas atividades neste novo mundo por mim ainda não conhecido. Minhas impressões, pensamentos, dúvidas, medos e receios. Espero também, para a felicidade do leitor astuto que obteve acesso ao meu diário pessoal e para a minha própria, que aqui estejam também minhas conquistas. Minhas realizações e alegrias. Mas não sabemos disso ainda não é? Já que esta experiência ainda está por começar. Então seja bem vindo, aproveite! E para que o aproveitamento seja em sua completa magnificênciassíssima magnitude: alerto-o para a cronologia dos relatos. (Apesar de que ler uma história de trás para frente as vezes pode ser divertidamente produtivo)


Seu professor calouro anônimo,
Andre Bruinje


terça-feira, 31 de agosto de 2010

31 de agosto: Bruinje´s goes to battle. A primeira prática de docência

31 de Agosto de 2010, Colégio Estadual Professora Maria Aguiar
Chegamos juntos, eu e a Carolina, bem cedo ao colégio, 8 da manhã. Encontramos a mestranda orientada pela professora Gioppo e, junto com ela fomos atrás da professora do colégio. A professora Adriane. Ainda não tínhamos decidido exatamente quem faria atividade em qual sala. Eu nunca havia mexido com Linux até um dia anterior, quando fomos ao colégio dar uma olhada nos laboratórios e como poderíamos usá-los nas aulas. Chegando ao colégio decidi por ficar na sala de aula. Para poder me apresentar corretamente aos alunos e ter um contato mais próximo. A Carolina foi ao laboratório de informática com a turma dela.

Logo entrando em sala a professora Adriane orientou um grupo de alunos à acompanhar a Carolina, se não me engano por seus respectivos números. E eu fiquei na sala de aula. Nenhum professor, orientador ou avaliador me acompanhou nesta aula. O que achei muito bom. Nunca havia enfrentado uma turma, e estar sozinho em sala, além me já me colocar na posição de professor diante da turma, me permitiu um contato direto com os alunos. E sem vergonha ou apreensão por alguém avaliar ou mesmo observar meu desempenho.

Ficaram apenas 8 alunos em sala, divididos quase igualmente entre meninos e meninas. De início já pedi aos alunos que puxassem as carteiras e sentassem em círculo, com a mesa do professor fazendo parte do círculo. De forma que pude observar não apenas se os alunos faziam ou não as atividades propostas, como também tudo e qualquer coisa que eles fizessem. Percebi que o número de comentários paralelos e atividades não relacionadas à aula nesta disposição são mínimos. Além disso, o contato com a figura do professor fica muito mais fácil, qualquer comentário, mesmo que em baixo tom de voz e para o colega do lado, eu pude escutar e responder. Fiquei surpreso com a participação da turma. Demonstraram respeito, ouviam tudo o que eu falava e não foi preciso chamar atenção de ninguém. Obtive bastante participação em aula, o que foi muito importante (e um alívio) já que baseei toda a estruturação da aula em questionamentos, e planejei realmente que eles chegassem às respostas. Acredito que uma das melhores formas de aprendizado é a que o aluno chega sozinho, a partir de uma questão em que ele pare, pense, reflita e chegue eventualmente na resposta. Mesmo que não o consiga, todo este período de reflexão é mais facilmente lembrado que conteúdos copiados de uma lousa para um caderno. Fiquei surpreso também por aprender quase que metade dos nomes dos alunos, pois sempre considerei que tenho uma péssima memória para nomes.

O conteúdo da aula era a respeito da membrana plasmática e seus componentes químicos e estrutura. Coisa nada interessante ou talvez até agradável para um aluno de 1º ano de ensino médio. Já tendo isto em vista, instalei em minha mesa um notebook em que preparei vídeos e imagens que ajudassem no entendimento do conteúdo já que é um assunto quase totalmente abstrato para alunos desta idade, o que se mostrou eficaz. Utilizei também algumas curiosidades a respeito de como a membrana atua e está presente em nosso dia a dia, usando alguns instrumentos. Por exemplo, fiz um barulho muito alto batendo na mesa do professor de modo que praticamente todos tomaram um susto. E a partir disso comentei um pouco a respeito de quais foram as respostas fisiológicas que o corpo deles teve como resposta ao meu estímulo externo, e disso passando para parte de receptores de membrana, que têm seu papel fundamental no sistema nervoso e, conseqüentemente, no susto que eles tomaram.

Levamos alguns materiais (artigos científicos, publicações em revistas de divulgação científica e dissertações de monografia) a respeito do Ômega3 e algumas imagens (eletromicrografias) da membrana impressas, dessa forma abordei o conteúdo de como e onde este ácido graxo é utilizado em nosso organismo, como é incorporado na membrana plasmática principalmente de neurônios, e por que isso é importante. Juntamente foi bom por apresentá-los à estas ferramentas, mostrar como é um artigo científico, como são feitos os experimentos em ratos e depois extrapolados para nós. Os alunos ficaram surpresos quando afirmei que ratos têm depressão ou estados deprimidos e que isso é reduzido com o uso do Ômega3. Também levei cápsulas de óleo de peixe, que é como o omega3 é vendido em farmácias para nosso consumo, e comentei a respeito de seus benefícios e outras formas de aumentar a ingestão de ômega3 na dieta, triturando linhaça e colocando no feijão, por exemplo.

Não deu tempo dos alunos terminarem o questionário que preparamos para a aula. O que não achei problema. Acredito que o questionário é mais um roteiro para direcionar uma aula baseada em questionamentos, do que uma avaliação do desempenho do aluno. Para este propósito serviu muito bem. Os alunos se interessaram bastante pelo material, acabei deixando as eletromicrografias com os alunos que pediram para ficar com elas.
Saí satisfeito da aula, principalmente por ser minha primeira aula e ter pego uma turma muito boa.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

24 de agosto, semana1: A primeira visita e observação às turmas. A primeira frustração

No dia 24 de Agosto de 2010, fomos ao colégio Professora Maria Aguiar rumo a nossa segunda visita ao local onde realizaremos o nosso estágio supervisionado de prática de ensino de Biologia.


Chegamos ao colégio às sete horas. E nos dirigimos a sala dos professores para conversarmos com a diretora pedagógica. Nosso objetivo, ao conversar com ela, era de solicitar autorização para que observássemos a turma escolhida para a execução do nosso estágio. Infelizmente, ela se mostrou resistente ao nosso pedido e nos informou que alguns professores do colégio não se sentiam a vontade com a nossa presença em sala de aula, que deveria ser conversado e requerido autorização previamente com os professores e que eles não se sentiriam a vontade sequer para responder sinceramente ali em nossa presença.
Tivemos que aguardar a chegada da professora Adriane, que é a professora responsável pela disciplina de biologia para os 1º e 2º anos, que tem as aulas apenas a partir do segundo horário.


Por volta das 8 horas da manhã a professora chegou ao colégio, apenas uma das outras duplas da prática havia chegado ao colégio. Fomos à sala dos professores eu, minha dupla e os dois integrantes da outra dupla, tivemos uns 15 minutos de conversa com a professora, onde ela nos instruiu de como eram as suas aulas, quais eram as turmas, quais eram as salas de aula referentes a cada turma, e que nós já deveríamos definir qual seria a turma que trabalharíamos durante o semestre. Desta forma, acompanharíamos a turma desde o segundo horário, assistindo assim todas as outras quatro aulas. Em seguida, a Professora Adriane nos colocou na turma do 2º B, a dupla da Daniela e do Alejandro na turma do 2º C. Já a dupla da Camila e do Samuel e a dupla do Tiago e da Liz que chegaram em cima do horário da aula ficaram de escolher entre o 2º A e o 1ª A.



Bateu o sinal, e seguimos para a sala junto com a professora Adriane. Ela nos apresentou para a turma como os estagiários da UFPR que iriam ministrar umas aulas para eles todas as terças-feiras. Sentamos no fundo da sala, um em cada canto e começamos a observar a aula. E as outras duplas se dirigiram para a sala correspondente a sua turma. Porém, ficamos sabendo antes que os alunos do 1º A estavam sem aula e sem professor naquele momento, pois naquela hora a aula seria de história, mas a professora sempre faltava justificando suas faltas com atestados. Então, o Tiago que estava sozinho no dia ficaria sem o acompanhamento da professora naquela turma. O que não aconteceu. Apesar das divisões prévias das turmas para cada dupla, acabou que eu, minha dupla, o Alejandro, a Daniela, e o Tiago assistimos uma aula com a professora Adriane no 2º B. Quase no final da aula a professora nos orientou para irmos conhecer o laboratório de ciências.


Nessa aula, a professora Adriane orientou os alunos para pegarem os livros didáticos disponíveis no colégio e se organizarem em duplas para resolução dos exercícios. Conforme a aula seguia, observamos que a professora interagia com praticamente todos os alunos da turma. Os alunos sempre a requisitavam para tirar dúvidas e ela também fazia perguntas periodicamente para a turma toda e para alguns alunos em particular. Uma aluna em particular, chegou uns 20 minutos atrasada e sentou sozinha bem no meio da sala. A professora observou que ela estava sozinha e indicou uma outra aluna para se juntarem e fazerem os exercícios. Porém, a aluna atrasada sentou com a outra, mas não teve iniciativa de ajudá-la com os exercícios, e logo foi mexer em sua mochila em busca de seu aparelho de mp3 para ouvir música. Quando a professora percebeu a intenção da aluna, abordou-a e pediu o aparelho, então, ela resolveu guardá-lo.


Conversando melhor com um aluno que sentou em minha frente, fiquei sabendo que essa aluna, “a atrasada”, é sempre chamada a coordenação, sempre chega atrasada, não consegue se concentrar na aula, e ainda, já até foi encontrada alcoolizada dentro do colégio durante o período de aulas.


No laboratório de ciências, aproveitamos para fazer o relatório diagnóstico, pois não tivemos a oportunidade de conhecê-lo na visita anterior. E aproveitamos para conversar entre nós, alunos da disciplina e estagiários do colégio para expor a situação de que nenhuma dupla queria ficar responsável pelo 1º A, e ainda a possibilidade de mudar todas as turmas de todas as duplas, pois o diretor do colégio nos informou logo no início da manhã que o horário de aulas da terça-feira sofreria alterações para eliminar as aulas geminadas de biologia da professora Adriane para que pudéssemos realizar o estágio da forma como tinha sido combinado com a professora Christiane Gioppo. Além disso, havia outro problema, o da aluna Liz que não estava presente e que tinha nos informado de sua necessidade de pegar a turma que tivesse aula no 2º horário, pois ela tinha aulas de inglês no CEFET às 10hr da manhã daquele dia. Acabamos por decidir em realizar um sorteio para ver quem ficaria com o 1º A. E acabou que nossa dupla ficou com a turma do 1º A.


Após o sorteio, nos dirigimos à sala dos professores, pois já era hora do intervalo para combinarmos com a professora Adriane que queríamos observar a aula dela no 1º A. Tomamos um café, conversamos e combinamos com a professora a observação e os conteúdos do 1º ano. O sinal tocou e seguimos para a sala de aula. Novamente, fomos apresentados aos alunos como estagiários da UFPR e sentamos separados no fundo da sala para iniciarmos a observação dos alunos. A professora novamente ministrou o mesmo tipo de aula que havia dado no 2º B. Orientando os alunos a sentarem em duplas e a pegarem os livros didáticos que o colégio fornece, e que não é o livro didático público, e a resolverem os exercícios do livro.


Aplicamos então o instrumento de observação que a professora Gioppo nos orientou. Fizemos um mapa da sala, e anotamos as interações entre os alunos e entre a professora e os alunos. Com essa atividade, observamos que a professora interage mais com os alunos da frente nessa turma, seja pelo interesse maior que eles demonstram ter. Porém, a professora interage com a turma toda, de forma que ela responde as perguntas feitas pelos alunos e faz perguntas gerais para a sala toda bem como faz também perguntas particulares para determinados alunos. A professora não demonstrou tratamento diferente para grupos de alunos, mas observamos que ela explica os assuntos conforme os alunos perguntam de forma que os alunos que se sentam mais a frente são os que demonstraram perguntar mais. E a professora não usa perguntas como forma de controlar a turma, percebemos até que ela deixa a turma bem livre e que os alunos ficam relativamente comportados sentados em grupo, isso porque não são todos os alunos que fazem mesmo os exercícios do livro. Já quanto aos alunos, percebemos que a característica predominante que estabelece a divisão dos grupos é o gênero. Há alguns alunos que mostraram interagir mais com a professora, fazendo perguntas demonstrando maior interesse.


O sinal tocou e deixamos a sala juntamente com a professora que se dirigiu para outra turma. Observamos nessa hora que os alunos dessa outra turma foram na porta da sala do 1º A buscar a professora e ajudá-la a carregar os livros. Despedimo-nos então da professora Adriane e combinamos uma visita para quinta-feira em que ela tem a manhã livre e nos ofereceu ajuda caso precisarmos. Nosso objetivo com a visita de quinta-feira foi conversar com a professora e discutir os assuntos a serem ministrados na primeira aula iremos ministrar para a turma do 1º A.


Vale a pena ressaltar que não atingimos o nosso objetivo que era conhecer e observar a turma em mais de uma aula no dia. E a justificativa que temos foi a confusão que os alunos-estagiários fizeram por causa do 1º A.