Carta ao diário

Olá diário,
e eventual leitor que o-tenha furtado do fundo de minha gaveta para fuxicar no meu dia-a-dia. Vocês são muito bem vindos! (mas não espalhem poraí o que vocês vão ver aqui) Afinal, aqui estarão documentadas as minhas atividades neste novo mundo por mim ainda não conhecido. Minhas impressões, pensamentos, dúvidas, medos e receios. Espero também, para a felicidade do leitor astuto que obteve acesso ao meu diário pessoal e para a minha própria, que aqui estejam também minhas conquistas. Minhas realizações e alegrias. Mas não sabemos disso ainda não é? Já que esta experiência ainda está por começar. Então seja bem vindo, aproveite! E para que o aproveitamento seja em sua completa magnificênciassíssima magnitude: alerto-o para a cronologia dos relatos. (Apesar de que ler uma história de trás para frente as vezes pode ser divertidamente produtivo)


Seu professor calouro anônimo,
Andre Bruinje


terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Reflexões póstumas sem bras cubas.

Há muito tempo sei qual profissão quero seguir em minha vida. A vontade de cursar Biologia veio cedo, ainda na 6ª série do ensino fundamental, no ano 2000. Nossa, já sou um futuro biólogo há praticamente 11 anos! Só agora me dei conta disso. Mas mesmo assim, mesmo com minha profissão certa há uma década, no quê eu trabalharia dentro da biologia era absolutamente desconhecido. Quando optei pelo curso, a pergunta que mais ouvi foi “você vai então ser professor?!” e a resposta era sempre “óbvio que não, nem todo biólogo precisa ser professor”, então ingressei no curso de bacharelado em biologia, mas a resposta à questão análoga à anterior era a mesma. Não sonhava em ser pesquisador. É claro que, calouro, no início de faculdade, não se sabe o que quer e o que não se quer fazer. Mas levou tempo até que isso mudasse.

Um estágio curto na coordenação de ciências e biologia do colégio que estudei minha vida inteira me aproximou um pouco mais do ambiente escolar. Desta vez não como aluno, mas pelos bastidores. Era iniciante ainda nas disciplinas de licenciatura (que deixei para a porção final do curso) e neste estágio fui apresentado a, entre muitas outras novidades, um livrinho pequeno de um autor que não tinha ouvido falar ainda: Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire. Juntamente com uma orientação e diálogo quase que diário com os coordenadores das demais disciplinas, tive um pouco mais de contato a respeito de quais são os objetivos, as funções, as preocupações, problemas, desafios e satisfações do ambiente escolar. Antes disso, para mim educação era apenas o conjunto de conteúdos que se aprende na escola. E o professor era quem vai à sala de aula “ensinar” os conteúdos do programa. E ponto!

Alguns muitos meses depois, cursando disciplinas de metodologia do ensino, didática, e as práticas de ensino em ciências e biologia, acabei me surpreendendo ao ver que em “saúde escolar” estão subentendidas muitas outras questões. O bem estar dos alunos, como sua saúde física, seu relacionamento, suporte e apoio de sua família, suas condições sociais que o fazem poder se dedicar ou não aos estudos, suas condições de moradia, o incentivo que recebe, a supervisão (seja para comparecer às aulas, ou no período do contra-turno), e suas atividades extracurriculares, são todos relacionados e preocupação da escola. São todos constituintes da educação.

Para tanto, por vezes o papel do educador é tão fundamental quanto o dos pais. Sendo este, além de um objeto mediador de conhecimentos, possivelmente uma imagem de referência, exemplo e até mesmo um influenciador e suporte de resiliência. O exemplo que o educador passa como ser humano, com sua postura, suas concepções de certo e errado e, idealmente, sua transparência podem muito bem ser moldadores ou influenciadores do indivíduo. Além disso, o que antes eu entendia como conhecimento, ou seja, os conteúdos específicos de cada disciplina, hoje vejo como apenas parte do que constitui o conteúdo em si. Juntamente com os conceitos, mecanismos, ferramentas e instrumentos ensinados em cada disciplina, abordagens transversais de temas paralelos a este conteúdo também fazem parte de sua totalidade. Meio ambiente e sociedade, questões relacionadas à ética e à moral, sexualidade, uso e abuso de substâncias ilícitas (temas que nem sempre estão de fato no currículo) estão diretamente ligados e relacionados aos conteúdos. Sendo estes necessariamente abordados sempre que possível ao longo do trabalho de todas as disciplinas. Dentro desta discussão toda, interesso-me particularmente por uma questão talvez um pouco polêmica, mas polêmica apenas por ser mal compreendida. O contato entre ciência e religião que, na minha área, tem um representante forte: o ensino de evolução.

A evolução das espécies é, de fato, completamente desconhecida pelo público leigo (que a única coisa que vem à mente é que viemos dos macacos e que Darwin era ateu). Seus mecanismos são mal compreendidos por profissionais (não especializados neste assunto) da área de biologia. É pessimamente explicada, ilustrada e exemplificada nos livros didáticos de ensino fundamental e médio. É fortemente distorcida pela mídia. Comumente é mal vista (por completa ignorância) nos meios religiosos. Nos momentos em que podemos considerá-la “bem explicada e entendida”, está incompleta. E, mesmo assim, norteia inteiramente todos os estudos de biologia. Parafraseando um importantíssimo biólogo geneticista, colaborador da síntese moderna da evolução, o ucraniano Theodosius Dobzhansky: “Nada em biologia faz sentido a não ser à luz da evolução”.

O ensino de evolução deveria começar cedo, já que “fósseis” está compreendido no conteúdo de ciências já na 5ª série e não vejo como falar de fósseis sem falar de evolução. Mas não ocorre. ‘Curricularmente’, evolução faz parte do programa de ciências do extremo final do ano letivo das 7ª séries. E, se cumprido o cronograma até aí, é visto muito superficialmente. Arrisco-me a dizer que, mesmo fazendo parte do conteúdo, é muito provavelmente evitado por alguns educadores. Talvez para evitar conflitos ou dificuldades idealísticas. Porém, evolução deveria ser paralelamente abordada, no mínimo, ao longo de toda a 6ª série (que é o ano onde são apresentadas todas as principais ‘categorias’ de seres vivos, os filos), aproximadamente aos 12 anos de idade. E estes (os filos), são apresentados em ordem de ‘proximidade’ conosco! Que oportunidade para trabalhar a evolução! Ao longo do ano todo, seus mecanismos podem ser facilmente utilizados para ilustrar o conteúdo (os diferentes tipos de animais e seres vivos). Desta forma, só seria necessário ao final do ano expor as propostas evolucionistas (plano desta aula em anexo, anexo1), pois seus mecanismos já seriam primariamente compreendidos.

Muitos instrumentos podem ser utilizados para o simples objetivo de compreender os mecanismos da evolução, um deles, o “especiômetro” (anexo2) tem uma simplicidade e eficácia didática bastante grande, e pode ser utilizado em qualquer momento oportuno do ano letivo. A utilização de textos de apoio (exemplo anexo3), pontualmente ou com a adoção de um livro paradidático, certamente somaria muito ao trabalho. Inclusive variando a metodologia e as atividades com os alunos. Acho bastante importante o contato do educando com obras, publicações, artigos de jornais, revistas, reportagens televisivas, artigos científicos (relação de bibliografias exemplo em anexo4) e até mesmo embalagens de produtos que consomem diariamente (podem ser utilizadas em aulas que abordam genética e nutrição). Faria uso destes em sala de aula (ao menos a título de curiosidade e informação) e, desta forma, reduzir a aparente distância entre os conteúdos abordados em sala de aula e o cotidiano do aluno.

Por fim, obviamente dependendo da equipe pedagógica do local de trabalho, acho muito importante fazer abordagens a respeito da história da ciência. O que seria uma deixa para conceituar ciência, explicar como é trabalhada e, principalmente, qual sua limitação, ou seja, até onde vai seu domínio. Tenho certa propriedade ao afirmar que ao censo comum, ciência e religião são vistos como opostos. Nas turmas em que tive a oportunidade de perguntar despreocupadamente se eles achavam que ciência e religião eram conflitantes, tive 100% de concordância (fato que até me surpreendeu). Alguns até enfatizavam: “Claro, completamente!”.

Acredito que esta visão pode ser muito prejudicial para o desenvolvimento do aluno. Até mesmo pode limitar sua futura carreira profissional. A concepção de que a ciência conflita com seu credo ou religião cria barreiras para a construção do conhecimento em muitas áreas, e isto pode inclusive dificultar o aprendizado em grandes áreas do conhecimento. “Se nada em biologia faz sentido a não ser à luz da evolução. Se a evolução é inevitavelmente contrária ao que eu acredito como verdade espiritual. Se eu tenho a minha fé estabelecida. E se para eu aceitar a evolução eu preciso negar minha fé. Então nada em biologia faz sentido!”. Esta linha de raciocínio não é incomum, e pode ser estendida, em casos extremos, à ciência como um todo. Quão desastroso seria se um raciocínio desta forma se estendesse ao ponto de fazer um devoto negar um tratamento médico!

Esta visão equivocada, este “falso conflito”, deve ser superado desde cedo na vida escolar do educando. Fazendo-o compreender que a ciência e a religião se estabelecem em domínios distintos, que não se sobrepõem. Parafraseando outro importantíssimo evolucionista, o excepcional paleontólogo americano Stephen Jay Gould: “A ciência estuda o céu. A religião, como chegar ao céu”.


terça-feira, 23 de novembro de 2010

23 de Novembro de 2010: Re-member!

No dia 23 de Novembro de 2010, Colégio Professora Maria Aguiar Teixeira.

Hoje resolvi voltar às atividades normais. Aula passada foi atípica, e não acredito que seria produtivo repetir a dose. Como fizemos um intensivão na aula passada, avaliamos que seria bom usar a de hoje para revisar a montoeira de conteúdos vistos.

Voltei ao usual, utilizar a sala de aula deles, com metade da turma. Sentados em mesa-redonda, com uma discussão e resolução de problemas e questões relacionadas ao conteúdo. Levamos um questionário, bastante denso por sinal, referente à, talvez, umas três aulas. Levei também um conjunto de bibliografias. Livros didáticos de ensino médio, livros técnicos de citologia, e livros de divulgação científica e curiosidades relacionadas ao tema. Como por exemplo, um intitulado “Roleta Genética”, de Jeffrey Smith, traduzido para o português no ano passado, que apresenta evidências de problemas trazidos pela utilização de organismos transgênicos, como alergias e doenças.

A minha idéia era distribuir os materiais entre os alunos, e distribuir os alunos em três grupos. Havia apenas seis alunos em sala, acredito que devido ao professor anterior ter faltado, mas a atividade funcionou bastante bem. Três duplas foram formadas, e pegaram as bibliografias que quiseram. Dividi um assunto para cada dupla: Duplicação do DNA, transcrição e tradução. E orientei-os que teriam 10 minutos para preparar um “mini-seminário” sobre o assunto escolhido, e mais dez para explicá-lo à turma. Poderiam utilizar tanto as bibliografias fornecidas quanto seus próprios materiais e anotações no caderno (que eu esperava que tivessem feito na semana passada).

10 minutos não foram suficientes, acabaram sendo uns 20. Mas foi produtivo mesmo assim. Acabei eliminando a parte da aula que eu mostraria alguns vídeos de utilidades e importâncias do DNA, como doenças, câncer, mutações, e, se desse tempo, seleção natural. Mas deixemos para próxima aula. Estamos preparando uma aula em conjunto para o fechamento das atividades, com algumas ferramentas e conversas. Acho que vai ser bacana, vamos esperar pra ver.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

19 de Novembro de 2010: Quatro em duas! Aulas 8 e 9 (com a 10 e a 11 de gaiatas)

19 de Novembro de 2010, Colégio Estadual Maria Aguiar Teixeira.

Fomos hoje ao colégio repor a aula que teríamos que ter dado na última terça-feira. Chegando lá, encontramos com a professora Adriane que nos informou que teríamos duas aulas, pois elas eram germinadas e tinham sido ofertadas por outro professor do colégio.

Como havíamos chegado mais cedo, fomos aos laboratórios para ver se havia disponibilidade de usarmos algum laboratório de informática. Lá encontramos com outra professora do colégio que informou que os laboratórios de informática eram usados na sexta-feira. Desta forma, a Carolina, que havia preparado apenas uma aula para informática ficou sem alternativas. Não havíamos levado material de prática, eu estava com material de multimídia. Conversamos com a professora Adriane e ela concordou que fizéssemos uma aula conjunta, o que foi bastante interessante.

Começamos a aula um pouco envergonhados, pelo menos eu. Não conhecia os alunos da Carol, nem como respondiam, nem como participavam. E confesso que acho que nossas características como professor são um pouco diferentes. A Carolina é a professora querida, que conversa com os alunos, que se precisa de participação convence-os de fazê-lo, e que ganha beijinhos das alunas de “tchau” e um “boa semana professora!”. Eu já sou um pouco mais elétrico, sempre tento interagir com os alunos, mas tenho a impressão que a distância parece um pouco maior. Fico um pouco apreensivo por eu ter cara de novo e os alunos não levarem a sério como professor. Além do fato de ter bastante alunas, motivo pelo qual eu mantenho mais distância ainda. Talvez quando eu for grisalho seja mais fácil.. Junto com isso, se eu preciso de participação e atenção eu peço, mas não espero muito a boa vontade deles. Acho que sou um pouco mais exigente nesse sentido.

Fizemos uma aula bastante participativa. Pelo menos tentamos. Consciente de que teria que fazer esta aula valer por duas devido ao “delay-class” que tivemos semana passada, preparei bastante vídeos e imagens, assim como uma lousa que já havia planejado. O que eu não queria era sair desta aula sem ter concluído estes assuntos: Estrutura do DNA, duplicação, transcrição e tradução. Junto com isso, que eles tivessem capacidade de entender e articular a respeito das moléculas de RNA mensageiro, RNA de transferência, RNA ribossômico e da DNA e RNA polimerase. Sabia que eram muitos termos diferentes e novos para eles, realmente não me importo de esquecerem ou confundirem os nomes, mas acho essencial eles entenderem os processos e suas importâncias.

A aula foi bastante corrida, e densa. Já no final da primeira aula ficou nítido que os alunos estavam cansados. Não foi fácil para eles, nem light. Mas são conteúdos muito importantes, tanto para seu conhecimento básico de genética, quanto para seu dia-a-dia. É um tema muito recorrente nos meios de comunicação, e muita besteira é vinculada poraí. Até em revistas de grande circulação como a VEJA, portanto dei bastante ênfase e insisti bastante na participação e na repetição. Mas sem fazer o uso de mnemônicas! E sim pedindo para me explicarem com suas próprias palavras. Utilizei alguns esquemas e desenhos no quadro (que me surpreendi por sinal. Não sabia que eu sabia fazer um quadro minimamente decente!)

A Carolina participou bastante da aula também. Com bastantes questionamentos inclusive. Foi bom pois em partes que eu passava despercebido sem dar a devida explicação ela encenava uma aluna perguntando, de forma que me forçava a responder em uma linguagem mais simples. Pequei um pouco com relação a ter dois professores em sala, falei um pouco mais do que deveria, acho que acabei tomando a frente da turma sem querer. Talvez eu tenha falado uns 10% a mais que a Carol. Mas acho que foi por minha falta de paciência.. Estou trabalhando nisso!

Saí da aula satisfeito pelo conteúdo, mas um pouco frustrado pois a aula não pareceu agradável. São conceitos um pouco complexos e bastante imaginativos do ponto de vista do aluno de ensino médio. Mas fiquei feliz pois a professora Adriane, que estava acompanhando a aula, veio ao final comentar que a aula estava muito bem preparada. Isto deu um ânimo.

Conseguimos fazer sobrar 10 minutos de aula, que foi suficiente para contextualizar os conteúdos com temas de interesse dos alunos, utilizei para falar um pouco de câncer, substâncias cancerígenas, mutação, vício e, levado pela curiosidade da turma, maconha.

Quatro aulas em duas, acredito que semana que vem teremos que fazer uma retomada para garantir e suprir algumas dúvidas.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

9 de Novembro de 2010: Prevendo a necessidade de uma recapeação..

9 de Novembro de 2010, Colégio Estadual Maria Aguiar Teixeira.

A grade horária do colégio não mudou mais, ainda estamos com a última aula de terça feira (e por conta disso continuamos com as mesmas dificuldades).

Hoje modificamos um pouco. Desde minha primeira e última aula em laboratório de informática, onde ocorreram todos os problemas que já desabafei aqui, vinha evitando o uso dos PCs com os alunos. Não sei se por trauma ou comodidade. Acostumei-me com nosso estilo de aula dialogada, e considero que está sendo produtivo. Mas mesmo assim fiquei a semana inteira pensando em dois comentários que os alunos fizeram aula passada. “Professor, agente sempre vai ter aula aqui na sala?”, “Por que só os alunos da Carol vão ao laboratório de informática?”. Então resolvi arriscar, ou melhor, investir. Se não for produtivo, eu mudo. Se for produtivo, maravilha.

Cheguei um pouco antes para garantir que não ocorresse o mesmo problema dos computadores, fui ao lab e a dupla da Camila e Samuel estava em aula ainda com sua turma. Pedi à Camila que deixasse os PCs ligados, pois iria utilizar, e pedi à Carolina que mandasse os alunos ao laboratório.

Eles chegaram e os professores anteriores ainda não haviam saído da sala. Levou uns 5 minutos para vagarem as carteiras e percebi que o laboratório, mesmo sem alunos, ainda estava ocupado.

Os professores anteriores estavam salvando as atividades que fizeram com os alunos, coisa que estava demorando bastante por computador. Na sala ainda estava a mestranda Tânia, que faz as observações da minha aula, a professora Adriane, mais duas professoras ou funcionárias utilizando os computadores e, 10 minutos depois mais outra professora entrou.

Não havia utilizado ESTE laboratório ainda e me dei conta de que ele é como se fosse a LanHouse do colégio. Todos os funcionários que precisam acessar a internet no colégio vão ali. Pedi a todos os presentes que saíssem dos computadores das filas do meio, onde eu gostaria que meus alunos sentassem de modo a não ficarem de costas para mim nem para o quadro. Fiquei bastante irritado pois o Samuel, estagiário da turma anterior, respondeu “Só um pouquinho, já vou” sendo que os lugares estavam contados e eu tive um aluno que ficou mais 10 minutos esperando ele terminar para tomar lugar no PC.

Nesta aula levei um questionário/roteiro e entreguei aos alunos, com perguntas, atividades e dicas de endereços eletrônicos para visitarem. Mas, mais uma vez repito, como minhas aulas eu baseio em questionamentos e perguntas, o desempenho da aula depende da participação dos alunos, o que já é sabia é muito afetado quando existem mais pessoas na sala. No caso: A professora Adriane, a mestranda Tânia, as duas professoras funcionárias que estão batendo papo, a outra professora que esta vendo seus emails e os dois estagiários assistindo minha aula. Epa! Que estão fazendo aqui assistindo minha aula? Achava que estavam finalizando a atividade que tinham feito na aula anterior! Respirei um pouco, perguntei se já haviam acabado o que estavam fazendo, eles responderam sorrindo que “Já!”. Então perguntei se estavam assistindo minha aula, responderam “estamos sim!”. Ah, é? Pedí então que se retirassem. Pois ali eles estavam atrapalhando os alunos (que realmente não respondiam uma pergunta sequer que eu fazia). Meio de mau grado, metade dos “ouvintes” saiu. Uns quatro ainda continuaram ali.

E dessa forma foi bastante difícil dar conta do conteúdo (que não deu!) Além do tempo perdido no inicio, junto com o tempo perdido por timidez dos alunos, não consegui completar metade das atividades que tinha proposto no planejamento. O que foi péssimo. Estou preocupado com a formação dos alunos, esta já é a segunda aula que tem seu conteúdo atrasado e que precisarei retomar na próxima.

Teremos que programar uma aula densa mais pra frente para tapar um pouco os buracos..

terça-feira, 26 de outubro de 2010

26 de Outubro: Rastejantes mas não pecadoras, pedagógicas!

26 de Outubro de 2010, Colégio Estadual Maria Aguiar Teixeira.

Chegamos, como de praxe, uns 10 ou 15 minutos antes da aula. Quase que não chegamos, na verdade, desta vez tivemos a sorte enorme de ter um trem no meio do caminho:

“No meio do caminho tinha um trem, tinha um trem no meio do caminho. No meio do caminho tinha um trem. Tinha um trem...”

Ora, já deu para entender a frustração e ansiedade de ter que esperar o bendito trem, minutos antes da aula. Mas, graças ao trem, tudo correu bem. (Nossa rimei! Estou poético hoje!)

Decidi fazer uma aula um pouco mais interativa ou que chame mais atenção dos alunos. Para isso levei uma surpresinha, de 30cm por 30cm por 30cm... bem visível a surpresinha, por sinal. Porém estava coberta com um pano devidamente alocado.

Levei também um questionário, a professora havia me instruído que os alunos deveriam ver o conteúdo de núcleo celular e membrana nuclear. Para tanto foi que preparei a aula. Mas, já no início das discussões e das perguntas (que costumo fazer ao longo da aula inteira de forma que os alunos cheguem as respostas ou, até mesmo, aos questionamentos) surpreendentemente eles já sabiam tudo que havia preparado par a aula! Haviam feito atividades com a professora durante a semana. O que acabou me pegando de surpresa. Quando a intenção era discutir envoltório nuclear, poros do envoltório nuclear, e sistema de endomembranas, juntamente com retículos citoplasmáticos liso e rugoso. Os alunos já haviam visto!

Então acabei por encaminhar uma aula expositiva sem preparação, péssimo para os alunos, eu diria. Pois começamos a ver síntese de proteínas sem eles terem uma boa noção de transcrição e tradução. Mas, para falar em retículos e golgi, era preciso usar alguma ferramenta de exemplo. Eu escolhi a Pepsina.

Discorri um pouco junto com a turma desde a produção do RNA mensageiro da pepsina até sua síntese no RER, e em seu empacotamento e secreção. (minimamente, pois transcrição e tradução estavam previstos para uma aula com vídeos ilustrativos, e mais pra frente no cronograma).

Só aí já havia passado dois terços da aula, e o terceiro terço já estava programado.

Levei a surpresa, um terrário completo, para o centro da bancada e mostrei para os alunos. Dentro, dentro, bem dentro.. das tocas estava a Josefina. Uma corn snake (Elaphe guttata) macho que temos em cativeiro. Chamo Josefina pois ela (ele) tem mais cara de Josefina mesmo. Salvo alguns alunos que não quiseram se aproximar, quando a retirei do terrário, pedi aos outros que lavassem as mãos para manipulá-la.

Utilizei a serpente para terminar com a importância e utilização da pepsina, já que ela faz um processo de digestão que, enquanto ainda é filhote, dura “apenas” uma semana. Assim como abordar alguns aspectos de comportamento, habitat, e introdução de espécies exóticas em habitat não-natural. Só a título de curiosidade.

Foi bastante tranqüilo, me certifiquei de os alunos lavarem as mãos depois do manuseio, mesmo tendo utilizado luvas cirúrgicas. As alunas da Carol vão ficar com invejinha! Vamos ver como vamos fazer nas próximas semanas..

terça-feira, 19 de outubro de 2010

19 de Outubro: Re-Play

19 de Outubro de 2010, Colégio Estadual Maria Aguiar Teixeira.

Chegamos ao colégio uns 10 minutos antes da aula.

Entramos em sala e mantivemos a mesma forma que aula passada: eu faria atividade na sala de aula dos alunos e a Carolina no laboratório de biologia.

Pedi aos alunos a se distribuírem nos mesmos grupos da aula anterior porém, desta vez troquei a atividade: os alunos que jogaram o PERBIO iriam agora fazer a atividade do Jogo da Memória Celular, e vice-versa.

Fizemos algumas modificações nos jogos, mas nada muito significativo. Apenas reestruturação de algumas cartas ou reelaboração das explicações. Tudo correu normalmente.

Único porém foi que um grupo estava menos disposto que o outro. Aparentemente, um dos jogos exige mais empenho em elaborar explicações, enquanto o outro já é mais fácil fazer as relações.

Notei um pouco de dificuldade da turma em diferenciar “processos” celulares, de “propriedade” e “estrutura”. O que necessitou uns 10 ou 15 minutos.

De resto foi bastante tranqüilo, nada de muito diferente da aula passada, porém acredito que o desempenho tenha sido melhor desta vez.

Viva a criatividade pedagógica!

terça-feira, 5 de outubro de 2010

05 de Outubro: Aprender é diversão! (e eu que só aprendi isso quando graduando..)

05 de Outubro de 2010, Colégio Estadual Maria Aguiar Teixeira.

Chegamos hoje 20 minutos antes da aula, sempre penso que é um desperdício ir para o colégio para ministrar apenas uma aula. Sendo que para isto teve todo o trabalho anterior de preparar o planejamento de ensino, pesquisar alguns artigos novos ou que façam relação do assunto com o dia-a-dia deles, vídeos, imagens e ainda mais preparar os questionários que levamos aos alunos. E imprimi-los! (o que, normalmente é uma tarefa simples e ridícula tem me tomado mais tempo que deveria. Instalamos um dispositivo na impressora para economia de tinta [e funciona! Economia de mais de 500%!] mas que debilitou sensivelmente a velocidade de impressão [talvez os mesmos 500%!]. O que era para levar alguns 3 minutos [15 ou 20 cópias] anda levando de 40 a 60 minutos! Isso tem me deixado louco..)

Hoje a Carolina foi buscar suas queridas alunas na sala, ao contrário do habitual, que ela sempre ministra aula em uma sala alternativa e eu peço às alunas dela que vão até ela. Fico contente em ver que elas (professora e alunas) estão se dando bem. Não sei se seria igual comigo com as mesmas alunas. Uma coisa que falta em mim um pouco ainda é a palavra chave das relações sociais: PACIÊNCIA

Planejamos uma aula que deu um pouco mais de trabalho do que o normal. Com base em algumas atividades da universidade, montamos dois jogos didáticos com os conteúdos vistos até o momento. Com a intenção de fazer uma micro revisão, já que são conteúdos essenciais para os demais estudos dos alunos, inclusive em outras disciplinas como química e física.

Basicamente são dois jogos: (1) Um jogo da memória, mas que, ao invés de conter em cada par de cartas figuras iguais, os pares são formados por: a) Uma carta com o nome de uma estrutura celular e a outra com a função da estrutura; b) Uma carta com o nome do processo celular e outra contendo a descrição do processo; ou c) Uma carta contendo uma figura de alguma estrutura ou processo celular e uma carta com sua devida descrição.

E (2) Um jogo de tabuleiro, inspirado no jogo “Perfil” que consiste em um jogo de perguntas e respostas dirigido. Onde os participantes são questionados através de um Cartão-Pergunta que é lido por outro jogador. O questionado pode utilizar até 5 “dicas” que estão contidas no cartão. Neste também está identificada a resposta correspondente às dicas, porém só o questionador tem conhecimento de qual a resposta seja. Só que com os conteúdos de processos, funções, organização e estruturas celulares: o “PERBIO”

Nenhum dos jogos tem necessariamente um ganhador, visto que são atividades colaborativas. Instruí aos alunos que se dividissem em dois grupos de 4 alunos, expliquei os dois jogos e, com relação à dúvidas de conteúdo, que primeiro tentasse o participante responder sozinho, se não conseguisse, que alguém do grupo tentasse explicar, se mesmo assim não conseguissem, que todo o grupo chegasse em um consenso e, se ainda assim não conseguissem, me chamassem para fazer explicações e tirar dúvidas. Acredito que uma forma muito boa de os alunos entenderem os conteúdos sem a famosa decoreba é ao menos tentando explicar para os outros.

Dessa forma seguiu toda a aula, foi muito tranqüila. Utilizei dois livros didáticos para explanação quando os alunos chegavam à mim com as dúvidas, tanto para ilustração quanto para consulta: Fundamentos da Biologia Moderna - Jose Mariano Amabis, Gilberto Rodrigues Martho; e o livro didático que eles utilizam.

Até a finalização da aula foi tranqüilo, alunos que inicialmente estavam com ‘preguiça’ de fazer a atividade insistiram para estender a aula por mais um tempinho para pelo menos finalizarem a atividade.

A professora Adriane e a mestranda Tânia, até chegaram a elogiar o jogo, e a professora nos pediu para re-aplicarmos o jogo na aula que vem.

Ponto para a brinquedoteca! (e para a criatividade da professora Carolina!)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

21 de Setembro de 2010: Engordar as vezes pode fazer bem sim!

21 de Setembro de 2010, Colégio Estadual Professora Maria

Chegamos ao colégio 10:30, nossa aula iniciaria as 11:05 (na minha opinião, desde a semana passada, o pior horário. Tanto por ser uma aula com tempo reduzido, dificultando normalmente o fechamento da aula e dos conteúdos abordados, quanto por ser a última aula e, ao seu final, os alunos estarem ansiosos para que ela termine)

Apesar de aula passada ter tido muitas adversidades, consegui identificar algumas dificuldades dos alunos com relação ao conteúdo. Em especial os conceitos de concentração de meios (hipertônico e hipotônicos), bem como os transportes de substancias entre eles e gradientes de concentração. Alunos tinham dificuldade para assimilar solvente e soluto e, no caso específico, o que eu necessitava que entendessem para dar continuidade à aula, o processo de osmose. Nitidamente havia alguma deficiência na disciplina de química e, portanto, tive que fazer algumas digressões. Tendo isto em vista, e o fato de um aluno ter me comentado na aula anterior algo como: “pô professor, faz uma aula mais light semana que vem por favor?” Resolvi utilizar alguma ferramenta que seja pelo menos para prender a atenção na aula e servir de apoio didático.

Entrei na sala e pedi à turma para que se dispusessem em mesa-redonda, como já havíamos trabalhado. Após todos devidamente alocados avisei à turma que, apesar de terem me pedido uma aula light, eu resolvi preparar uma aula bem pesada e “gorda“. Retirei uma caixa de bombons da mala e servi à turma à vontade, assim como me servi de bombons também após me certificar de que não havia nenhum diabético ou intolerante à lactose na turma, para isto eu havia preparado uma barra de chocolate diet. Instruí que todos comessem, servindo-os a vontade caso quisessem mais bombons, eu inclusive e, após talvez uns 3 ou 4 minutos, quando achei que já estavam saturados de doce perguntei se estavam com sede. A maioria assentiu com a cabeça, e comecei a indagar qual o motivo de estarem com sede enquanto fui servindo um copo de água para cada um. E, desta forma, consegui passar aos processos de osmose e diferença de concentração de meios. No caso, a boca deles sendo o meio hipersaturado de glicose, necessitando desesperadamente de água. Foi uma forma produtiva, muito prática e simples de abordar o assunto. Daí para frente seguimos com uma aula semi-expositiva mas na versão de conversa. Todos sentados ainda em mesa redonda, salvo quando eu necessitava desenhar algo no quadro para ilustrar a explicação. Foi bastante fácil seguir o conteúdo daí, fazia mais perguntas à eles que respondia. Usava assim as perguntas para ir direcionando as respostas de um para o outro.

Tenho reparado que cada vez menos preciso chamar atenção dos alunos em sala. Não sei realmente o motivo. Acredito que seja devido à disposição dos alunos e também ao número de alunos em sala, que varia entre 12 e 8.

Desta aula saí bastante incentivado. Um ponto positivo que ajuda bastante nas aulas é o questionário que sempre preparamos anteriormente e que os alunos devem responder em sala de aula.

Mais um ponto ao cacau!

terça-feira, 14 de setembro de 2010

14 de Setembro: Segunda prática de docencia, O que era pra ser Light, virou Churrasco

14 de Setembro de 2010, Colégio Estadual Professora Maria Aguiar Teixeira, segunda prática de docência.

Fomos informados no dia anterior que a grade horária havia mudado em decorrência da disponibilidade de horários dos outros estagiários da prática de ensino. Chegamos, portanto ao colégio às 10 da manhã. Decidimos mudar a disposição da aula da semana anterior. Fui então ao laboratório de informática e a Carolina com os alunos para o laboratório de biologia. Fui com os alunos ao laboratório em que tinha preparado as atividades no dia anterior, mas estava sendo usado por outra turma pelo que parece por um mal entendido de horários. E os estagiários das aulas anteriores, que não chegaram no horário, estavam dando aula no mesmo horário que seria a aula que assumimos. Então fui encaminhado a outro laboratório menor. O que gerou vários imprevistos.

A chave do laboratório não se sabia com quem estava. E levou uns 5 ou 10 minutos até que chegasse à sala. Tempo precioso em uma aula que já é menor que as demais, pois as últimas aulas têm uma duração menor. O fato de o laboratório ser pequeno (11 computadores) não era um problema a princípio, já que na aula anterior apenas 8 alunos compareceram. Porém desta vez tive 10 alunos, o que é se arriscar um pouco porque não havia testado o laboratório anteriormente para saber se todos estavam funcionando. E o diretor, quando entregou as chaves, me alertou para ficar atento pois estes computadores não tinham “trava” na internet, ou seja, não tinham censura para sites e os alunos poderiam entrar em qualquer site. Antes fosse.

Após entrar no laboratório, e alocar os alunos, não conseguimos iniciar os pcs pois, diferentemente dos computadores do laboratório em que preparei a aula, este não tinha as senhas nos monitores. Então, até eu pedir à professora, esta pedir à pedagoga, esta ao diretor, e este conseguir contatar via telefone a pessoa que sabia a senha, você já pode imaginar quanto tempo de aula foi perdido. Quando vi que não tinham as senhas, pedi à professora Adriane que trouxesse os livros didáticos dos alunos, pois deixá-los esperando não seria nada bom. Por sorte eu havia levado comigo minhas canetas e apagador de quadro branco o que ajudou um pouco.

Distribuí os livros para os alunos, percebi que eles não gostaram muito, quase não vão aos laboratórios, e quando o fazem, a aula é igual à aula que a professora deles ministra em sala. Então utilizei os questionários da aula anterior. Já que não haviam finalizado na outra aula.

A atenção dos alunos foi mais desviada do que na aula anterior. Além dos vai-e-vem de pessoas atrás da chave e senha, a professora de biologia deles permaneceu na sala e, logo após, a professora Gioppo também entrou na sala. O que foi ruim para o desenvolvimento da aula. O laboratório é muito pequeno, então as duas professoras ficaram de pé, do meu lado, quase na frente da lousa. Além disso, a professora Gioppo não aceitou sentar-se no único PC vago que sugeri à ela sentar-se. Desta forma ficou um tumulto de professores na frente da lousa. Divergindo atenção dos alunos e, o que é muito pior, inibindo-os de participarem e responderem. Isso foi muito contra-produtivo.

Após isso ligamos os computadores, aguardamos uns 5 minutos e eles não iniciavam..
Então decidi trabalhar com aula expositiva, completamente contrário à minha proposta de aula. Tive que fazer uma aula expositiva, sem tê-la preparado, sendo observado pela professora da turma e pela minha orientadora, em uma sala não apropriada para uma aula dessa forma, onde todos os alunos tinham suas cadeiras viradas para a parede, e não para a lousa. Os últimos alunos inclusive de costas.

Estes portanto, tenderam a conversar mais, o que foi controlado no início das atividades. Como fiz uma retomada da aula anterior e usei de roteiro de aula o questionário1, pedi à aula do fundo que viesse ao quadro passar as respostas e comentários que os outros haviam pensado e/ou respondido. E ao outro aluno que estava conversando com ela, pedia sempre para ele (John) e o outro do fundo (Otávio) que lessem as questões. Desta forma a situação foi, parcialmente, controlada.

Saí bastante desestimulado da aula, pois nada do planejado foi possível ser feito em sala. Mas, apesar dos pesares, não perdi a calma. Ainda bem pros alunos. hehe

terça-feira, 31 de agosto de 2010

31 de agosto: Bruinje´s goes to battle. A primeira prática de docência

31 de Agosto de 2010, Colégio Estadual Professora Maria Aguiar
Chegamos juntos, eu e a Carolina, bem cedo ao colégio, 8 da manhã. Encontramos a mestranda orientada pela professora Gioppo e, junto com ela fomos atrás da professora do colégio. A professora Adriane. Ainda não tínhamos decidido exatamente quem faria atividade em qual sala. Eu nunca havia mexido com Linux até um dia anterior, quando fomos ao colégio dar uma olhada nos laboratórios e como poderíamos usá-los nas aulas. Chegando ao colégio decidi por ficar na sala de aula. Para poder me apresentar corretamente aos alunos e ter um contato mais próximo. A Carolina foi ao laboratório de informática com a turma dela.

Logo entrando em sala a professora Adriane orientou um grupo de alunos à acompanhar a Carolina, se não me engano por seus respectivos números. E eu fiquei na sala de aula. Nenhum professor, orientador ou avaliador me acompanhou nesta aula. O que achei muito bom. Nunca havia enfrentado uma turma, e estar sozinho em sala, além me já me colocar na posição de professor diante da turma, me permitiu um contato direto com os alunos. E sem vergonha ou apreensão por alguém avaliar ou mesmo observar meu desempenho.

Ficaram apenas 8 alunos em sala, divididos quase igualmente entre meninos e meninas. De início já pedi aos alunos que puxassem as carteiras e sentassem em círculo, com a mesa do professor fazendo parte do círculo. De forma que pude observar não apenas se os alunos faziam ou não as atividades propostas, como também tudo e qualquer coisa que eles fizessem. Percebi que o número de comentários paralelos e atividades não relacionadas à aula nesta disposição são mínimos. Além disso, o contato com a figura do professor fica muito mais fácil, qualquer comentário, mesmo que em baixo tom de voz e para o colega do lado, eu pude escutar e responder. Fiquei surpreso com a participação da turma. Demonstraram respeito, ouviam tudo o que eu falava e não foi preciso chamar atenção de ninguém. Obtive bastante participação em aula, o que foi muito importante (e um alívio) já que baseei toda a estruturação da aula em questionamentos, e planejei realmente que eles chegassem às respostas. Acredito que uma das melhores formas de aprendizado é a que o aluno chega sozinho, a partir de uma questão em que ele pare, pense, reflita e chegue eventualmente na resposta. Mesmo que não o consiga, todo este período de reflexão é mais facilmente lembrado que conteúdos copiados de uma lousa para um caderno. Fiquei surpreso também por aprender quase que metade dos nomes dos alunos, pois sempre considerei que tenho uma péssima memória para nomes.

O conteúdo da aula era a respeito da membrana plasmática e seus componentes químicos e estrutura. Coisa nada interessante ou talvez até agradável para um aluno de 1º ano de ensino médio. Já tendo isto em vista, instalei em minha mesa um notebook em que preparei vídeos e imagens que ajudassem no entendimento do conteúdo já que é um assunto quase totalmente abstrato para alunos desta idade, o que se mostrou eficaz. Utilizei também algumas curiosidades a respeito de como a membrana atua e está presente em nosso dia a dia, usando alguns instrumentos. Por exemplo, fiz um barulho muito alto batendo na mesa do professor de modo que praticamente todos tomaram um susto. E a partir disso comentei um pouco a respeito de quais foram as respostas fisiológicas que o corpo deles teve como resposta ao meu estímulo externo, e disso passando para parte de receptores de membrana, que têm seu papel fundamental no sistema nervoso e, conseqüentemente, no susto que eles tomaram.

Levamos alguns materiais (artigos científicos, publicações em revistas de divulgação científica e dissertações de monografia) a respeito do Ômega3 e algumas imagens (eletromicrografias) da membrana impressas, dessa forma abordei o conteúdo de como e onde este ácido graxo é utilizado em nosso organismo, como é incorporado na membrana plasmática principalmente de neurônios, e por que isso é importante. Juntamente foi bom por apresentá-los à estas ferramentas, mostrar como é um artigo científico, como são feitos os experimentos em ratos e depois extrapolados para nós. Os alunos ficaram surpresos quando afirmei que ratos têm depressão ou estados deprimidos e que isso é reduzido com o uso do Ômega3. Também levei cápsulas de óleo de peixe, que é como o omega3 é vendido em farmácias para nosso consumo, e comentei a respeito de seus benefícios e outras formas de aumentar a ingestão de ômega3 na dieta, triturando linhaça e colocando no feijão, por exemplo.

Não deu tempo dos alunos terminarem o questionário que preparamos para a aula. O que não achei problema. Acredito que o questionário é mais um roteiro para direcionar uma aula baseada em questionamentos, do que uma avaliação do desempenho do aluno. Para este propósito serviu muito bem. Os alunos se interessaram bastante pelo material, acabei deixando as eletromicrografias com os alunos que pediram para ficar com elas.
Saí satisfeito da aula, principalmente por ser minha primeira aula e ter pego uma turma muito boa.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

24 de agosto, semana1: A primeira visita e observação às turmas. A primeira frustração

No dia 24 de Agosto de 2010, fomos ao colégio Professora Maria Aguiar rumo a nossa segunda visita ao local onde realizaremos o nosso estágio supervisionado de prática de ensino de Biologia.


Chegamos ao colégio às sete horas. E nos dirigimos a sala dos professores para conversarmos com a diretora pedagógica. Nosso objetivo, ao conversar com ela, era de solicitar autorização para que observássemos a turma escolhida para a execução do nosso estágio. Infelizmente, ela se mostrou resistente ao nosso pedido e nos informou que alguns professores do colégio não se sentiam a vontade com a nossa presença em sala de aula, que deveria ser conversado e requerido autorização previamente com os professores e que eles não se sentiriam a vontade sequer para responder sinceramente ali em nossa presença.
Tivemos que aguardar a chegada da professora Adriane, que é a professora responsável pela disciplina de biologia para os 1º e 2º anos, que tem as aulas apenas a partir do segundo horário.


Por volta das 8 horas da manhã a professora chegou ao colégio, apenas uma das outras duplas da prática havia chegado ao colégio. Fomos à sala dos professores eu, minha dupla e os dois integrantes da outra dupla, tivemos uns 15 minutos de conversa com a professora, onde ela nos instruiu de como eram as suas aulas, quais eram as turmas, quais eram as salas de aula referentes a cada turma, e que nós já deveríamos definir qual seria a turma que trabalharíamos durante o semestre. Desta forma, acompanharíamos a turma desde o segundo horário, assistindo assim todas as outras quatro aulas. Em seguida, a Professora Adriane nos colocou na turma do 2º B, a dupla da Daniela e do Alejandro na turma do 2º C. Já a dupla da Camila e do Samuel e a dupla do Tiago e da Liz que chegaram em cima do horário da aula ficaram de escolher entre o 2º A e o 1ª A.



Bateu o sinal, e seguimos para a sala junto com a professora Adriane. Ela nos apresentou para a turma como os estagiários da UFPR que iriam ministrar umas aulas para eles todas as terças-feiras. Sentamos no fundo da sala, um em cada canto e começamos a observar a aula. E as outras duplas se dirigiram para a sala correspondente a sua turma. Porém, ficamos sabendo antes que os alunos do 1º A estavam sem aula e sem professor naquele momento, pois naquela hora a aula seria de história, mas a professora sempre faltava justificando suas faltas com atestados. Então, o Tiago que estava sozinho no dia ficaria sem o acompanhamento da professora naquela turma. O que não aconteceu. Apesar das divisões prévias das turmas para cada dupla, acabou que eu, minha dupla, o Alejandro, a Daniela, e o Tiago assistimos uma aula com a professora Adriane no 2º B. Quase no final da aula a professora nos orientou para irmos conhecer o laboratório de ciências.


Nessa aula, a professora Adriane orientou os alunos para pegarem os livros didáticos disponíveis no colégio e se organizarem em duplas para resolução dos exercícios. Conforme a aula seguia, observamos que a professora interagia com praticamente todos os alunos da turma. Os alunos sempre a requisitavam para tirar dúvidas e ela também fazia perguntas periodicamente para a turma toda e para alguns alunos em particular. Uma aluna em particular, chegou uns 20 minutos atrasada e sentou sozinha bem no meio da sala. A professora observou que ela estava sozinha e indicou uma outra aluna para se juntarem e fazerem os exercícios. Porém, a aluna atrasada sentou com a outra, mas não teve iniciativa de ajudá-la com os exercícios, e logo foi mexer em sua mochila em busca de seu aparelho de mp3 para ouvir música. Quando a professora percebeu a intenção da aluna, abordou-a e pediu o aparelho, então, ela resolveu guardá-lo.


Conversando melhor com um aluno que sentou em minha frente, fiquei sabendo que essa aluna, “a atrasada”, é sempre chamada a coordenação, sempre chega atrasada, não consegue se concentrar na aula, e ainda, já até foi encontrada alcoolizada dentro do colégio durante o período de aulas.


No laboratório de ciências, aproveitamos para fazer o relatório diagnóstico, pois não tivemos a oportunidade de conhecê-lo na visita anterior. E aproveitamos para conversar entre nós, alunos da disciplina e estagiários do colégio para expor a situação de que nenhuma dupla queria ficar responsável pelo 1º A, e ainda a possibilidade de mudar todas as turmas de todas as duplas, pois o diretor do colégio nos informou logo no início da manhã que o horário de aulas da terça-feira sofreria alterações para eliminar as aulas geminadas de biologia da professora Adriane para que pudéssemos realizar o estágio da forma como tinha sido combinado com a professora Christiane Gioppo. Além disso, havia outro problema, o da aluna Liz que não estava presente e que tinha nos informado de sua necessidade de pegar a turma que tivesse aula no 2º horário, pois ela tinha aulas de inglês no CEFET às 10hr da manhã daquele dia. Acabamos por decidir em realizar um sorteio para ver quem ficaria com o 1º A. E acabou que nossa dupla ficou com a turma do 1º A.


Após o sorteio, nos dirigimos à sala dos professores, pois já era hora do intervalo para combinarmos com a professora Adriane que queríamos observar a aula dela no 1º A. Tomamos um café, conversamos e combinamos com a professora a observação e os conteúdos do 1º ano. O sinal tocou e seguimos para a sala de aula. Novamente, fomos apresentados aos alunos como estagiários da UFPR e sentamos separados no fundo da sala para iniciarmos a observação dos alunos. A professora novamente ministrou o mesmo tipo de aula que havia dado no 2º B. Orientando os alunos a sentarem em duplas e a pegarem os livros didáticos que o colégio fornece, e que não é o livro didático público, e a resolverem os exercícios do livro.


Aplicamos então o instrumento de observação que a professora Gioppo nos orientou. Fizemos um mapa da sala, e anotamos as interações entre os alunos e entre a professora e os alunos. Com essa atividade, observamos que a professora interage mais com os alunos da frente nessa turma, seja pelo interesse maior que eles demonstram ter. Porém, a professora interage com a turma toda, de forma que ela responde as perguntas feitas pelos alunos e faz perguntas gerais para a sala toda bem como faz também perguntas particulares para determinados alunos. A professora não demonstrou tratamento diferente para grupos de alunos, mas observamos que ela explica os assuntos conforme os alunos perguntam de forma que os alunos que se sentam mais a frente são os que demonstraram perguntar mais. E a professora não usa perguntas como forma de controlar a turma, percebemos até que ela deixa a turma bem livre e que os alunos ficam relativamente comportados sentados em grupo, isso porque não são todos os alunos que fazem mesmo os exercícios do livro. Já quanto aos alunos, percebemos que a característica predominante que estabelece a divisão dos grupos é o gênero. Há alguns alunos que mostraram interagir mais com a professora, fazendo perguntas demonstrando maior interesse.


O sinal tocou e deixamos a sala juntamente com a professora que se dirigiu para outra turma. Observamos nessa hora que os alunos dessa outra turma foram na porta da sala do 1º A buscar a professora e ajudá-la a carregar os livros. Despedimo-nos então da professora Adriane e combinamos uma visita para quinta-feira em que ela tem a manhã livre e nos ofereceu ajuda caso precisarmos. Nosso objetivo com a visita de quinta-feira foi conversar com a professora e discutir os assuntos a serem ministrados na primeira aula iremos ministrar para a turma do 1º A.


Vale a pena ressaltar que não atingimos o nosso objetivo que era conhecer e observar a turma em mais de uma aula no dia. E a justificativa que temos foi a confusão que os alunos-estagiários fizeram por causa do 1º A.