Carta ao diário

Olá diário,
e eventual leitor que o-tenha furtado do fundo de minha gaveta para fuxicar no meu dia-a-dia. Vocês são muito bem vindos! (mas não espalhem poraí o que vocês vão ver aqui) Afinal, aqui estarão documentadas as minhas atividades neste novo mundo por mim ainda não conhecido. Minhas impressões, pensamentos, dúvidas, medos e receios. Espero também, para a felicidade do leitor astuto que obteve acesso ao meu diário pessoal e para a minha própria, que aqui estejam também minhas conquistas. Minhas realizações e alegrias. Mas não sabemos disso ainda não é? Já que esta experiência ainda está por começar. Então seja bem vindo, aproveite! E para que o aproveitamento seja em sua completa magnificênciassíssima magnitude: alerto-o para a cronologia dos relatos. (Apesar de que ler uma história de trás para frente as vezes pode ser divertidamente produtivo)


Seu professor calouro anônimo,
Andre Bruinje


terça-feira, 23 de novembro de 2010

23 de Novembro de 2010: Re-member!

No dia 23 de Novembro de 2010, Colégio Professora Maria Aguiar Teixeira.

Hoje resolvi voltar às atividades normais. Aula passada foi atípica, e não acredito que seria produtivo repetir a dose. Como fizemos um intensivão na aula passada, avaliamos que seria bom usar a de hoje para revisar a montoeira de conteúdos vistos.

Voltei ao usual, utilizar a sala de aula deles, com metade da turma. Sentados em mesa-redonda, com uma discussão e resolução de problemas e questões relacionadas ao conteúdo. Levamos um questionário, bastante denso por sinal, referente à, talvez, umas três aulas. Levei também um conjunto de bibliografias. Livros didáticos de ensino médio, livros técnicos de citologia, e livros de divulgação científica e curiosidades relacionadas ao tema. Como por exemplo, um intitulado “Roleta Genética”, de Jeffrey Smith, traduzido para o português no ano passado, que apresenta evidências de problemas trazidos pela utilização de organismos transgênicos, como alergias e doenças.

A minha idéia era distribuir os materiais entre os alunos, e distribuir os alunos em três grupos. Havia apenas seis alunos em sala, acredito que devido ao professor anterior ter faltado, mas a atividade funcionou bastante bem. Três duplas foram formadas, e pegaram as bibliografias que quiseram. Dividi um assunto para cada dupla: Duplicação do DNA, transcrição e tradução. E orientei-os que teriam 10 minutos para preparar um “mini-seminário” sobre o assunto escolhido, e mais dez para explicá-lo à turma. Poderiam utilizar tanto as bibliografias fornecidas quanto seus próprios materiais e anotações no caderno (que eu esperava que tivessem feito na semana passada).

10 minutos não foram suficientes, acabaram sendo uns 20. Mas foi produtivo mesmo assim. Acabei eliminando a parte da aula que eu mostraria alguns vídeos de utilidades e importâncias do DNA, como doenças, câncer, mutações, e, se desse tempo, seleção natural. Mas deixemos para próxima aula. Estamos preparando uma aula em conjunto para o fechamento das atividades, com algumas ferramentas e conversas. Acho que vai ser bacana, vamos esperar pra ver.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

19 de Novembro de 2010: Quatro em duas! Aulas 8 e 9 (com a 10 e a 11 de gaiatas)

19 de Novembro de 2010, Colégio Estadual Maria Aguiar Teixeira.

Fomos hoje ao colégio repor a aula que teríamos que ter dado na última terça-feira. Chegando lá, encontramos com a professora Adriane que nos informou que teríamos duas aulas, pois elas eram germinadas e tinham sido ofertadas por outro professor do colégio.

Como havíamos chegado mais cedo, fomos aos laboratórios para ver se havia disponibilidade de usarmos algum laboratório de informática. Lá encontramos com outra professora do colégio que informou que os laboratórios de informática eram usados na sexta-feira. Desta forma, a Carolina, que havia preparado apenas uma aula para informática ficou sem alternativas. Não havíamos levado material de prática, eu estava com material de multimídia. Conversamos com a professora Adriane e ela concordou que fizéssemos uma aula conjunta, o que foi bastante interessante.

Começamos a aula um pouco envergonhados, pelo menos eu. Não conhecia os alunos da Carol, nem como respondiam, nem como participavam. E confesso que acho que nossas características como professor são um pouco diferentes. A Carolina é a professora querida, que conversa com os alunos, que se precisa de participação convence-os de fazê-lo, e que ganha beijinhos das alunas de “tchau” e um “boa semana professora!”. Eu já sou um pouco mais elétrico, sempre tento interagir com os alunos, mas tenho a impressão que a distância parece um pouco maior. Fico um pouco apreensivo por eu ter cara de novo e os alunos não levarem a sério como professor. Além do fato de ter bastante alunas, motivo pelo qual eu mantenho mais distância ainda. Talvez quando eu for grisalho seja mais fácil.. Junto com isso, se eu preciso de participação e atenção eu peço, mas não espero muito a boa vontade deles. Acho que sou um pouco mais exigente nesse sentido.

Fizemos uma aula bastante participativa. Pelo menos tentamos. Consciente de que teria que fazer esta aula valer por duas devido ao “delay-class” que tivemos semana passada, preparei bastante vídeos e imagens, assim como uma lousa que já havia planejado. O que eu não queria era sair desta aula sem ter concluído estes assuntos: Estrutura do DNA, duplicação, transcrição e tradução. Junto com isso, que eles tivessem capacidade de entender e articular a respeito das moléculas de RNA mensageiro, RNA de transferência, RNA ribossômico e da DNA e RNA polimerase. Sabia que eram muitos termos diferentes e novos para eles, realmente não me importo de esquecerem ou confundirem os nomes, mas acho essencial eles entenderem os processos e suas importâncias.

A aula foi bastante corrida, e densa. Já no final da primeira aula ficou nítido que os alunos estavam cansados. Não foi fácil para eles, nem light. Mas são conteúdos muito importantes, tanto para seu conhecimento básico de genética, quanto para seu dia-a-dia. É um tema muito recorrente nos meios de comunicação, e muita besteira é vinculada poraí. Até em revistas de grande circulação como a VEJA, portanto dei bastante ênfase e insisti bastante na participação e na repetição. Mas sem fazer o uso de mnemônicas! E sim pedindo para me explicarem com suas próprias palavras. Utilizei alguns esquemas e desenhos no quadro (que me surpreendi por sinal. Não sabia que eu sabia fazer um quadro minimamente decente!)

A Carolina participou bastante da aula também. Com bastantes questionamentos inclusive. Foi bom pois em partes que eu passava despercebido sem dar a devida explicação ela encenava uma aluna perguntando, de forma que me forçava a responder em uma linguagem mais simples. Pequei um pouco com relação a ter dois professores em sala, falei um pouco mais do que deveria, acho que acabei tomando a frente da turma sem querer. Talvez eu tenha falado uns 10% a mais que a Carol. Mas acho que foi por minha falta de paciência.. Estou trabalhando nisso!

Saí da aula satisfeito pelo conteúdo, mas um pouco frustrado pois a aula não pareceu agradável. São conceitos um pouco complexos e bastante imaginativos do ponto de vista do aluno de ensino médio. Mas fiquei feliz pois a professora Adriane, que estava acompanhando a aula, veio ao final comentar que a aula estava muito bem preparada. Isto deu um ânimo.

Conseguimos fazer sobrar 10 minutos de aula, que foi suficiente para contextualizar os conteúdos com temas de interesse dos alunos, utilizei para falar um pouco de câncer, substâncias cancerígenas, mutação, vício e, levado pela curiosidade da turma, maconha.

Quatro aulas em duas, acredito que semana que vem teremos que fazer uma retomada para garantir e suprir algumas dúvidas.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

9 de Novembro de 2010: Prevendo a necessidade de uma recapeação..

9 de Novembro de 2010, Colégio Estadual Maria Aguiar Teixeira.

A grade horária do colégio não mudou mais, ainda estamos com a última aula de terça feira (e por conta disso continuamos com as mesmas dificuldades).

Hoje modificamos um pouco. Desde minha primeira e última aula em laboratório de informática, onde ocorreram todos os problemas que já desabafei aqui, vinha evitando o uso dos PCs com os alunos. Não sei se por trauma ou comodidade. Acostumei-me com nosso estilo de aula dialogada, e considero que está sendo produtivo. Mas mesmo assim fiquei a semana inteira pensando em dois comentários que os alunos fizeram aula passada. “Professor, agente sempre vai ter aula aqui na sala?”, “Por que só os alunos da Carol vão ao laboratório de informática?”. Então resolvi arriscar, ou melhor, investir. Se não for produtivo, eu mudo. Se for produtivo, maravilha.

Cheguei um pouco antes para garantir que não ocorresse o mesmo problema dos computadores, fui ao lab e a dupla da Camila e Samuel estava em aula ainda com sua turma. Pedi à Camila que deixasse os PCs ligados, pois iria utilizar, e pedi à Carolina que mandasse os alunos ao laboratório.

Eles chegaram e os professores anteriores ainda não haviam saído da sala. Levou uns 5 minutos para vagarem as carteiras e percebi que o laboratório, mesmo sem alunos, ainda estava ocupado.

Os professores anteriores estavam salvando as atividades que fizeram com os alunos, coisa que estava demorando bastante por computador. Na sala ainda estava a mestranda Tânia, que faz as observações da minha aula, a professora Adriane, mais duas professoras ou funcionárias utilizando os computadores e, 10 minutos depois mais outra professora entrou.

Não havia utilizado ESTE laboratório ainda e me dei conta de que ele é como se fosse a LanHouse do colégio. Todos os funcionários que precisam acessar a internet no colégio vão ali. Pedi a todos os presentes que saíssem dos computadores das filas do meio, onde eu gostaria que meus alunos sentassem de modo a não ficarem de costas para mim nem para o quadro. Fiquei bastante irritado pois o Samuel, estagiário da turma anterior, respondeu “Só um pouquinho, já vou” sendo que os lugares estavam contados e eu tive um aluno que ficou mais 10 minutos esperando ele terminar para tomar lugar no PC.

Nesta aula levei um questionário/roteiro e entreguei aos alunos, com perguntas, atividades e dicas de endereços eletrônicos para visitarem. Mas, mais uma vez repito, como minhas aulas eu baseio em questionamentos e perguntas, o desempenho da aula depende da participação dos alunos, o que já é sabia é muito afetado quando existem mais pessoas na sala. No caso: A professora Adriane, a mestranda Tânia, as duas professoras funcionárias que estão batendo papo, a outra professora que esta vendo seus emails e os dois estagiários assistindo minha aula. Epa! Que estão fazendo aqui assistindo minha aula? Achava que estavam finalizando a atividade que tinham feito na aula anterior! Respirei um pouco, perguntei se já haviam acabado o que estavam fazendo, eles responderam sorrindo que “Já!”. Então perguntei se estavam assistindo minha aula, responderam “estamos sim!”. Ah, é? Pedí então que se retirassem. Pois ali eles estavam atrapalhando os alunos (que realmente não respondiam uma pergunta sequer que eu fazia). Meio de mau grado, metade dos “ouvintes” saiu. Uns quatro ainda continuaram ali.

E dessa forma foi bastante difícil dar conta do conteúdo (que não deu!) Além do tempo perdido no inicio, junto com o tempo perdido por timidez dos alunos, não consegui completar metade das atividades que tinha proposto no planejamento. O que foi péssimo. Estou preocupado com a formação dos alunos, esta já é a segunda aula que tem seu conteúdo atrasado e que precisarei retomar na próxima.

Teremos que programar uma aula densa mais pra frente para tapar um pouco os buracos..