Carta ao diário

Olá diário,
e eventual leitor que o-tenha furtado do fundo de minha gaveta para fuxicar no meu dia-a-dia. Vocês são muito bem vindos! (mas não espalhem poraí o que vocês vão ver aqui) Afinal, aqui estarão documentadas as minhas atividades neste novo mundo por mim ainda não conhecido. Minhas impressões, pensamentos, dúvidas, medos e receios. Espero também, para a felicidade do leitor astuto que obteve acesso ao meu diário pessoal e para a minha própria, que aqui estejam também minhas conquistas. Minhas realizações e alegrias. Mas não sabemos disso ainda não é? Já que esta experiência ainda está por começar. Então seja bem vindo, aproveite! E para que o aproveitamento seja em sua completa magnificênciassíssima magnitude: alerto-o para a cronologia dos relatos. (Apesar de que ler uma história de trás para frente as vezes pode ser divertidamente produtivo)


Seu professor calouro anônimo,
Andre Bruinje


terça-feira, 26 de outubro de 2010

26 de Outubro: Rastejantes mas não pecadoras, pedagógicas!

26 de Outubro de 2010, Colégio Estadual Maria Aguiar Teixeira.

Chegamos, como de praxe, uns 10 ou 15 minutos antes da aula. Quase que não chegamos, na verdade, desta vez tivemos a sorte enorme de ter um trem no meio do caminho:

“No meio do caminho tinha um trem, tinha um trem no meio do caminho. No meio do caminho tinha um trem. Tinha um trem...”

Ora, já deu para entender a frustração e ansiedade de ter que esperar o bendito trem, minutos antes da aula. Mas, graças ao trem, tudo correu bem. (Nossa rimei! Estou poético hoje!)

Decidi fazer uma aula um pouco mais interativa ou que chame mais atenção dos alunos. Para isso levei uma surpresinha, de 30cm por 30cm por 30cm... bem visível a surpresinha, por sinal. Porém estava coberta com um pano devidamente alocado.

Levei também um questionário, a professora havia me instruído que os alunos deveriam ver o conteúdo de núcleo celular e membrana nuclear. Para tanto foi que preparei a aula. Mas, já no início das discussões e das perguntas (que costumo fazer ao longo da aula inteira de forma que os alunos cheguem as respostas ou, até mesmo, aos questionamentos) surpreendentemente eles já sabiam tudo que havia preparado par a aula! Haviam feito atividades com a professora durante a semana. O que acabou me pegando de surpresa. Quando a intenção era discutir envoltório nuclear, poros do envoltório nuclear, e sistema de endomembranas, juntamente com retículos citoplasmáticos liso e rugoso. Os alunos já haviam visto!

Então acabei por encaminhar uma aula expositiva sem preparação, péssimo para os alunos, eu diria. Pois começamos a ver síntese de proteínas sem eles terem uma boa noção de transcrição e tradução. Mas, para falar em retículos e golgi, era preciso usar alguma ferramenta de exemplo. Eu escolhi a Pepsina.

Discorri um pouco junto com a turma desde a produção do RNA mensageiro da pepsina até sua síntese no RER, e em seu empacotamento e secreção. (minimamente, pois transcrição e tradução estavam previstos para uma aula com vídeos ilustrativos, e mais pra frente no cronograma).

Só aí já havia passado dois terços da aula, e o terceiro terço já estava programado.

Levei a surpresa, um terrário completo, para o centro da bancada e mostrei para os alunos. Dentro, dentro, bem dentro.. das tocas estava a Josefina. Uma corn snake (Elaphe guttata) macho que temos em cativeiro. Chamo Josefina pois ela (ele) tem mais cara de Josefina mesmo. Salvo alguns alunos que não quiseram se aproximar, quando a retirei do terrário, pedi aos outros que lavassem as mãos para manipulá-la.

Utilizei a serpente para terminar com a importância e utilização da pepsina, já que ela faz um processo de digestão que, enquanto ainda é filhote, dura “apenas” uma semana. Assim como abordar alguns aspectos de comportamento, habitat, e introdução de espécies exóticas em habitat não-natural. Só a título de curiosidade.

Foi bastante tranqüilo, me certifiquei de os alunos lavarem as mãos depois do manuseio, mesmo tendo utilizado luvas cirúrgicas. As alunas da Carol vão ficar com invejinha! Vamos ver como vamos fazer nas próximas semanas..

terça-feira, 19 de outubro de 2010

19 de Outubro: Re-Play

19 de Outubro de 2010, Colégio Estadual Maria Aguiar Teixeira.

Chegamos ao colégio uns 10 minutos antes da aula.

Entramos em sala e mantivemos a mesma forma que aula passada: eu faria atividade na sala de aula dos alunos e a Carolina no laboratório de biologia.

Pedi aos alunos a se distribuírem nos mesmos grupos da aula anterior porém, desta vez troquei a atividade: os alunos que jogaram o PERBIO iriam agora fazer a atividade do Jogo da Memória Celular, e vice-versa.

Fizemos algumas modificações nos jogos, mas nada muito significativo. Apenas reestruturação de algumas cartas ou reelaboração das explicações. Tudo correu normalmente.

Único porém foi que um grupo estava menos disposto que o outro. Aparentemente, um dos jogos exige mais empenho em elaborar explicações, enquanto o outro já é mais fácil fazer as relações.

Notei um pouco de dificuldade da turma em diferenciar “processos” celulares, de “propriedade” e “estrutura”. O que necessitou uns 10 ou 15 minutos.

De resto foi bastante tranqüilo, nada de muito diferente da aula passada, porém acredito que o desempenho tenha sido melhor desta vez.

Viva a criatividade pedagógica!

terça-feira, 5 de outubro de 2010

05 de Outubro: Aprender é diversão! (e eu que só aprendi isso quando graduando..)

05 de Outubro de 2010, Colégio Estadual Maria Aguiar Teixeira.

Chegamos hoje 20 minutos antes da aula, sempre penso que é um desperdício ir para o colégio para ministrar apenas uma aula. Sendo que para isto teve todo o trabalho anterior de preparar o planejamento de ensino, pesquisar alguns artigos novos ou que façam relação do assunto com o dia-a-dia deles, vídeos, imagens e ainda mais preparar os questionários que levamos aos alunos. E imprimi-los! (o que, normalmente é uma tarefa simples e ridícula tem me tomado mais tempo que deveria. Instalamos um dispositivo na impressora para economia de tinta [e funciona! Economia de mais de 500%!] mas que debilitou sensivelmente a velocidade de impressão [talvez os mesmos 500%!]. O que era para levar alguns 3 minutos [15 ou 20 cópias] anda levando de 40 a 60 minutos! Isso tem me deixado louco..)

Hoje a Carolina foi buscar suas queridas alunas na sala, ao contrário do habitual, que ela sempre ministra aula em uma sala alternativa e eu peço às alunas dela que vão até ela. Fico contente em ver que elas (professora e alunas) estão se dando bem. Não sei se seria igual comigo com as mesmas alunas. Uma coisa que falta em mim um pouco ainda é a palavra chave das relações sociais: PACIÊNCIA

Planejamos uma aula que deu um pouco mais de trabalho do que o normal. Com base em algumas atividades da universidade, montamos dois jogos didáticos com os conteúdos vistos até o momento. Com a intenção de fazer uma micro revisão, já que são conteúdos essenciais para os demais estudos dos alunos, inclusive em outras disciplinas como química e física.

Basicamente são dois jogos: (1) Um jogo da memória, mas que, ao invés de conter em cada par de cartas figuras iguais, os pares são formados por: a) Uma carta com o nome de uma estrutura celular e a outra com a função da estrutura; b) Uma carta com o nome do processo celular e outra contendo a descrição do processo; ou c) Uma carta contendo uma figura de alguma estrutura ou processo celular e uma carta com sua devida descrição.

E (2) Um jogo de tabuleiro, inspirado no jogo “Perfil” que consiste em um jogo de perguntas e respostas dirigido. Onde os participantes são questionados através de um Cartão-Pergunta que é lido por outro jogador. O questionado pode utilizar até 5 “dicas” que estão contidas no cartão. Neste também está identificada a resposta correspondente às dicas, porém só o questionador tem conhecimento de qual a resposta seja. Só que com os conteúdos de processos, funções, organização e estruturas celulares: o “PERBIO”

Nenhum dos jogos tem necessariamente um ganhador, visto que são atividades colaborativas. Instruí aos alunos que se dividissem em dois grupos de 4 alunos, expliquei os dois jogos e, com relação à dúvidas de conteúdo, que primeiro tentasse o participante responder sozinho, se não conseguisse, que alguém do grupo tentasse explicar, se mesmo assim não conseguissem, que todo o grupo chegasse em um consenso e, se ainda assim não conseguissem, me chamassem para fazer explicações e tirar dúvidas. Acredito que uma forma muito boa de os alunos entenderem os conteúdos sem a famosa decoreba é ao menos tentando explicar para os outros.

Dessa forma seguiu toda a aula, foi muito tranqüila. Utilizei dois livros didáticos para explanação quando os alunos chegavam à mim com as dúvidas, tanto para ilustração quanto para consulta: Fundamentos da Biologia Moderna - Jose Mariano Amabis, Gilberto Rodrigues Martho; e o livro didático que eles utilizam.

Até a finalização da aula foi tranqüilo, alunos que inicialmente estavam com ‘preguiça’ de fazer a atividade insistiram para estender a aula por mais um tempinho para pelo menos finalizarem a atividade.

A professora Adriane e a mestranda Tânia, até chegaram a elogiar o jogo, e a professora nos pediu para re-aplicarmos o jogo na aula que vem.

Ponto para a brinquedoteca! (e para a criatividade da professora Carolina!)